Na Umbanda,
temos uma Linha de Entidades de Trabalho que se identificam como Pomba Gira (ou
Pombagira) e que atuam na chamada Esquerda. São espíritos humanos que tiveram
várias encarnações e que, com o tempo, obtiveram a permissão da Lei Maior para
se assentarem à Esquerda dos Orixás e trabalharem em favor da nossa evolução.
E
onde estaria a origem da palavra Pombagira?
Na
Cultura Nagô-Iorubá, de onde vem o culto aos Orixás, não existe um Orixá
Pombagira (Divindade) e nem uma Entidade Pombagira.
A
provável origem do nome Pombagira está numa Divindade da Cultura Bantu. Os
povos Bantus (ou Bantos) ocupavam a região de Angola, Congo, Cabinda, que
ficava ao lado do território do povo Sudanês, este correspondente aos Nagôs e Jejes.
Entre
os Bantos, predomina a Cultura Angola, na qual o idioma mais falado é o
Kimbundu (ou Kimbundo). Dentro dessa Cultura Angola de língua Kimbundu, as
Divindades são chamadas Inkices e entre elas há uma Divindade “Bombo Gila” ou
“Bombo Njila” ou “Pambu Njila”, que é o Senhor ou Guardião dos caminhos e das
encruzilhadas. Dessa designação pode ter derivado o nome Pomba Gira.Outros
estudiosos afirmam que o nome Pombagira deriva de “Bombogira” (ou “Bombo
Djiro”), Divindade da Cultura Angola que recebia oferendas nas encruzilhadas e
caminhos e que às vezes era identificada como feminina e outras, como
masculina.
Pomba
Gira na Umbanda
Dentro
da Umbanda, o nome Pomba Gira pode ser traduzido como: mensageira dos caminhos
à Esquerda. “Pomba” é um pássaro que já foi usado como correio
(pombos-correios); e “gira” expressa a idéia de movimento, caminhada,
deslocamento etc. Como essas Entidades atuam na Esquerda, vem o significado de
mensageira dos caminhos à Esquerda.
Logo no
início da religião de Umbanda, as primeiras Entidades que se apresentaram foram
os Caboclos, os Pretos Velhos e as Crianças. Em seguida vieram os Exus, que
chegaram trazendo Entidades companheiras, as quais se identificavam como Pomba
Gira.
Assim
como Exu é um guardião e protetor na Esquerda, Pombagira também é uma guardiã
protetora atuante na Esquerda da Umbanda. Ela se apresentou como par natural de
Exu e por esse motivo, no início das suas manifestações, se pensava que
Pombagira fosse “mulher de Exu” e até “mãe de Exu Mirim”. Com o passar do
tempo, a Espiritualidade foi esclarecendo melhor aquele tipo de manifestação,
aumentando a nossa compreensão a respeito dessas Entidades.
Há
registros de que entidades com características semelhantes já se manifestavam
no Brasil antes do advento da Umbanda. O pesquisador João do Rio, no livro “As
religiões do Rio”, relata casos dessas manifestações nas chamadas “macumbas”
cariocas.
Porém,
com características próprias, a presença de Pombagira se acentua na Umbanda nas
décadas de 1960/70, coincidindo com os movimentos pela libertação feminina.
Até
então, historicamente, a mulher sempre teve um papel subalterno em nossa
sociedade, marcadamente machista; sendo rotineiramente sufocada na sua
expressão, pelo poder masculino.
Contexto
histórico, cultural e social no qual surge e se expande a presença de Pombagira
na Umbanda― Não é demais lembrar que há questão de um século a legislação de
muitos países permitia ao marido, até mesmo, matar a mulher que lhe fosse
infiel. Porém, esse marido não poderia assassinar o homem que participou com
ela da traição. Ou seja, as leis deixavam bem claro que o homem era “superior”
à mulher; que a “culpa e o “crime” eram sempre da mulher e, portanto, ela
merecia todos os “castigos e punições”...
Muitas
religiões inclusive “sacramentavam” a condição subalterna das mulheres,
impondo-lhes obediência irrestrita aos pais, maridos e aos parentes masculinos
em geral; e que cobrissem todo o corpo, então visto como “fonte de pecado e
luxúria”...
Dessa
forma e por muito tempo, a mulher foi reduzida à condição de objeto, pois não
era vista como um ser com direitos; e foi levada a crer na sua “inferioridade”
perante o homem e a acreditar que a sua sensualidade e sexualidade naturais, de
origem Divina, eram coisa “demoníaca”...
Em nosso
país, até bem pouco tempo, as filhas solteiras eram confinadas em quartos
internos das residências, de modo que não houvesse portas ou janelas dando para
a rua, e onde elas permaneciam impedidas de contatos com pessoas,
principalmente homens, que não fossem da família. Casamentos arranjados eram de
costume. Os direitos civis das mulheres, quando existiam, eram muito limitados,
pois a legislação recente colocava o homem como chefe da família e a mulher
como sua subordinada.
Vamos
fazer aqui um rápido apanhado da situação jurídica da mulher brasileira nos
últimos oitenta anos, para se ter uma idéia mais clara do assunto:
O
direito ao voto é conquista recente da mulher brasileira. Foi obtido
parcialmente por meio do Código Eleitoral Provisório, de 24 de fevereiro de
1932, que permitia o voto apenas das mulheres casadas, desde que com
autorização do marido, bem como o das viúvas e solteiras que tivessem renda
própria. O Código Eleitoral de 1934 ampliou esse direito, mas não lhe deu
caráter obrigatório, ao contrário do previsto para o voto masculino. O voto
feminino sem restrições só passou a ser obrigatório em 1946.
O
direito ao voto feminino começou pelo Rio Grande do Norte, em 1927, quando a
Professora Celina Guimarães, de Mossoró, se tornou a primeira brasileira a
fazer o alistamento eleitoral. A primeira mulher escolhida para ocupar um cargo
eletivo é também do Rio Grande do Norte: Alzira Soriano, eleita Prefeita de
Lajes, em 1928, pelo Partido Republicano. Mas ela não terminou o seu mandato,
pois a Comissão de Poderes do Senado anulou os votos de todas as mulheres...
Em
1933, a médica paulista Carlota Pereira de Queiroz foi a primeira mulher a
votar e ser eleita Deputada Federal, participando dos trabalhos da Assembléia
Nacional Constituinte, entre 1934 e 1935.
Em
1979, pela primeira vez uma mulher ocupou um lugar no Senado: Eunice Michiles
(do Amazonas), que era Suplente e assumiu o posto com a morte do Titular do
cargo.
Mas só em
1990 foram eleitas as primeiras Senadoras: Júnia Marise (por Minas Gerais) e
Marluce Pinto (por Roraima). Por São Paulo, a Suplente Eva Blay assumiu o
mandato quando o Titular, Senador Fernando Henrique Cardoso, se tornou Ministro
do então Presidente Itamar Franco.
Em
1994, o Maranhão elegeu a primeira Governadora de nosso país: Roseana Sarney.
Em
1996, o Congresso Nacional instituiu o sistema de cotas na Legislação
Eleitoral, obrigando os partidos a inscreverem, no mínimo, 20% de mulheres nas
chapas proporcionais. Em 1997, o sistema foi revisado, elevando esse mínimo para
30%.
A
nossa primeira Ministra de Estado foi Maria Esther Figueiredo Ferraz
(Educação), em 1982. Hoje, as mulheres estão à frente de vários Ministérios e
há uma Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Recentemente, o
Brasil elegeu a primeira mulher para o alto cargo de Presidente da
República: a Senhora Dilma Rousseff.
Pois
bem.
Se a
valorização da mulher no cenário político é coisa recente e que ainda assusta a
muitos “machistas de plantão”, já podemos imaginar que no âmbito particular,
familiar e doméstico a situação tem sido ainda muito pior.
O
quadro geral recente da nossa história revela uma teia de discriminação e,
consequentemente, um gerador de desrespeito e de violências contra a mulher.
Ora,
se tudo apontava para a “inferioridade” das mulheres, até porque os sacerdotes
e os legisladores de então eram homens, é natural que alguns homens se
julgassem no direito até de espancá-las e tratá-las como animais. Infelizmente,
alguns ainda pensam assim, e a violência doméstica contra as mulheres é muito
grande em nosso país: maridos e companheiros que as espancam ou as submetem
emocionalmente, filhos e familiares que assim procedem; e tudo assistido
impunemente pela sociedade e pelo Estado.
Apenas
em 07 de agosto de 2006 tivemos a edição da Lei 11340, a chamada Lei Maria da
Penha, como instrumento jurídico específico de proteção das mulheres contra a
violência familiar e doméstica (praticada por seus maridos e companheiros, ou
por filhos e quaisquer pessoas da sua convivência).
A Lei
Maria da Penha prevê a criação de Juizados e Delegacias Especiais para cuidar
de casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, bem como o
estabelecimento de medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar, com a punição inclusive criminal dos
infratores.
Em
resumo, essa Lei dispõe que: Artigo 2º― Toda mulher, independentemente de
classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional,
idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem
violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
intelectual e social; Art. 3º ― Serão asseguradas às mulheres as condições para
o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à
educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária; (...) Artigo 6o ― A violência doméstica e familiar
contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos.
Esses
dados ilustram a lenta evolução da situação da mulher em nossa sociedade.
E o
quê as Entidades Pombagiras têm a ver com isso?
Acontece
que, justamente num período que coincide com os movimentos pela libertação
feminina, as Pombagiras vieram com mais força na Umbanda, trazendo o arquétipo
da mulher forte, destemida, segura de si, sensual (mas NÃO vulgar!), mostrando
a força do poder feminino. Ao mesmo tempo, mostravam-se boas ouvintes e
conselheiras. Envolventes, conseguiam fazer com que as pessoas lhes contassem
seus problemas mais particulares e suas inseguranças, para então auxiliá-las.
Com
isso, as Pombagiras trouxeram um novo padrão de valor feminino para a
sociedade, ajudando muitas mulheres a conquistarem autoconfiança e a
recuperarem sua autoestima; e, indiretamente, auxiliavam a promover uma
transformação do olhar masculino e de toda a sociedade para com as mulheres.
Mais uma
vez, nos deparamos com a Espiritualidade Superior buscando formas de nos ajudar
a valorizar a figura da mulher e a quebrar mais um preconceito, levando a
sociedade a avançar como um todo no caminho da fraternidade, da igualdade e do
respeito ao outro.
O
Mistério, o Orixá, o Trono e a Entidade Pombagira na Umbanda
Na
Criação, encontramos o Princípio Masculino, o Poder e a Força Masculinos do
Criador manifestados por meio dos Orixás Masculinos. É a Manifestação do
aspecto “Pai” do Criador.
Já o
Princípio, o Poder e a Força Femininos do Criador são manifestados pelos Orixás
Femininos (Oyá-Tempo, Oxum, Obá, Egunitá, Iansã, Nanã, Iemanjá). Manifestação
do aspecto “Mãe” do Criador. E este mesmo Poder Feminino está presente em
Pombagira.
Ou
seja, na Umbanda, Pombagira é também uma Manifestação do Sagrado Feminino;
portanto, é uma Entidade que deve ser tratada com o mesmo respeito que
dedicamos às demais.
Na
Umbanda, Pombagira é cultuada como Entidade de Trabalho, como Espírito que
trabalha a serviço da Luz e que, portanto, só pode praticar o Bem, e ainda que
às vezes o faça com mão forte...
Como
todas as Entidades, a atuação de Pombagira é sustentada por um Orixá. Este
Orixá Sustentador manifesta um Mistério Divino e é chamado de Orixá Pombagira,
porque não há outro nome conhecido para designá-Lo (visto que na Cultura Nagô,
de onde provém o culto a Orixá, não existe uma Divindade com este nome).
Assim,
a Linha ou Grau Pombagira é sustentado por um Orixá que denominamos de Orixá
Pombagira. Da mesma forma que cada Linha de Trabalho da Umbanda tem a
sustentação de Orixás específicos, o mesmo acontece com Pombagira.
E
assim como há Caboclos, Pretos Velhos, Baianos etc., trabalhando na Irradiação
de todos os Orixás, há Pombagiras de Oxalá, de Oxum, de Oxóssi etc., enfim, há
Pombagiras de todos os Orixás.
O
Trono que corresponde ao Mistério Pombagira é denominado Trono do Estímulo ou
do Desejo, pois esta é a Energia que Pombagira nos transmite, e com muita
propriedade: o despertar do estímulo, do gosto pela vida, o “start” para
levarmos avante os nossos esforços pela conquista de uma vida melhor, mais
saudável e equilibrada, em todos os setores.
O
“desejo” que Pombagira desperta em nós não se refere ao campo unicamente
sexual, como alguns pensam, mas tem uma conotação muito mais ampla. Sem
estímulo, a pessoa não consegue caminhar em nenhum setor da vida. E no campo
sexual, especificamente, Pombagira é a grande esgotadora dos desequilíbrios,
dos entraves e bloqueios que possamos carregar em nosso íntimo, visto que a
Energia sexual é Sagrada e, por isso mesmo, importante para o nosso equilíbrio
geral. Pombagira muitas vezes revela o que está escondido, para promover o
esgotamento desses negativismos.
E por
qual motivo Pombagira se apresentou, no início, como par natural de Exu?
Exatamente porque Pombagira desperta nos seres o estímulo para agir, enquanto
Exu vitaliza essa vontade, para que o objetivo seja alcançado.
Ainda
há muita desinformação a respeito de Pombagira, inclusive no meio umbandista.
Para
alguns, seria uma Entidade capaz de fazer o mal (“amarrações”, trabalhos de
magia negativa etc.). Grande equívoco! Uma Entidade que trabalha a serviço da
Lei Maior não se presta a tais coisas. O que pode acontecer é que seres
trevosos se aproveitem da malícia e despreparo do médium ou do consulente, ou
de ambos, para, usando o nome de Pombagira, atenderem a caprichos inferiores.
Mas aí a responsabilidade é dividida de forma igual entre quem pediu, o médium
que serviu de intermediário e quem fez, e não das Entidades Pombagiras.
Há
também quem pense que Pombagira foi prostituta, mulher perdida etc. Assim,
ela viriatrabalhar para “pagar um carma”, estando sujeita às nossas
vontades. Outro engano! Pombagira é um espírito humano que teve várias
encarnações. Que, como todo ser humano, cometeu erros. Mas que se arrependeu e
se reergueu, obtendo a permissão Divina para trabalhar, usando da sua
experiência em benefício da própria evolução e também da nossa, porque nos
alerta sobre as consequências dos erros.
Quem
errou e reconheceu seus erros tem um grau de consciência apurado. E quem vem
trabalhar como Guia de Umbanda tem um nível de evolução superior ao nosso!
Ninguém
pode afirmar, ao certo, quem foi Pombagira na sua última encarnação ou nas
anteriores. E isso não interessa, na verdade. Aliás, quem somos nós para
“julgar” quem vem nos ajudar? O que importa é que se trata de Espíritos a
serviço da Luz e que, por já terem errado, conseguem entender os nossos erros
humanos. Falam conosco “de igual para igual” (no sentido de compreensão) e
podem nos ajudar no caminho da recuperação, a partir do momento em que
assumirmos responsabilidade pelos nossos atos. Quando uma Entidade da Esquerda
vem e nos conta um episódio do seu passado como encarnado, fala dos seus erros
e das suas consequências quando deixou a carne, tudo isso nos serve de
reflexão. Esse é um dos pontos de atuação de Pombagira em nosso favor, pois
quando ela fala de erros, acertos e consequências, ela sabe do que está falando
e nos transmite sinceridade e veracidade.
Quem
conhece o caminho pode guiar quem vem atrás...
A
única maneira de quebrarmos os preconceitos que ainda existem em relação às
Pombagiras é pelo estudo da natureza e finalidade do trabalho dessas Entidades
dentro da Umbanda. Fiéis de outras religiões não têm obrigação de conhecer
isso, embora devam nos respeitar, até por força de mandamento constitucional.
Mas
enquanto houver médiuns e consulentes umbandistas achando que podem pedir
qualquer coisa a uma Pombagira; ou médiuns vestindo roupas escandalosas, com
“decotão’, transparentes, barriga de fora, com maquiagem e adornos excessivos,
e requebrando de maneira vulgar por aí, e fazendo isso “em nome de Pombagira”;
enquanto isso continuar acontecendo, será difícil que a Umbanda obtenha o
respeito das pessoas de fora da religião. E dentro da religião essas práticas
absurdas só abrem caminho para a manifestação de seres trevosos, mentirosos e
enganadores, que nada mais são do que afins com aqueles que deturpam o nome da
Umbanda. Semelhante atrai semelhante...
Na
Umbanda, quando POMBAGIRA se manifesta, estamos diante DO SAGRADO FEMININO.
Por
detrás daquele Espírito que vem trabalhar, há um Orixá Sustentador, há um
Mistério da Criação Divina. Há também outros Pais e Mães Orixás Irradiadores, a
amparar e indicar o campo específico de trabalho de cada Pombagira.
Enfim,
na atuação de Pombagira há todo um Caminho Sagrado nos envolvendo, ao qual
devemos amar, honrar e respeitar, dentro e fora da religião.
LAROYÊ,
POMBAGIRA! POMBAGIRA MODJUBÁ!
SALVE O
ORIXÁ POMBAGIRA!
SALVE TODAS
AS SENHORAS POMBAGIRAS DE UMBANDA!
Nomes
simbólicos: Pombagira das Sete Encruzilhadas; Pombagira das Sete Praias;
Pombagira das Sete Coroas; Pombagira das Sete Saias; Pombagira dos Sete
Caminhos; Pombagira das Matas; Rosa Negra; Dama da Noite; Maria Molambo; Maria
Padilha; Pombagira das Almas; Pombagira dos Sete Véus; Pombagira Cigana; Rosa
Caveira; Sandália de Prata; Pombagira Rainha; Maria Quitéria; etc.
Dia
da semana: Não há um dia específico. A designação de um dia, em cada
Terreiro, pode estar relacionada ao Orixá que rege mais diretamente o
trabalho da Entidade que comanda essa Linha naquela Casa.
Campo
de atuação: Estimular os seres nos Sete Sentidos da Vida (Fé, Amor,
Conhecimento, Justiça, Lei, Evolução e Geração); desbloqueio de energias densas
no campo da sexualidade; limpeza energética; quebra de magias negativas.
Ponto
de Força: No geral, as encruzilhadas em forma de " T" e os
caminhos. No particular, o ponto de força do Orixá que as rege mais
diretamente.
Cor:
Preferencial: Vermelho. Algumas usam o bicolor vermelho/preto.
Elementos
de trabalho: Punhal; pembas vermelhas; ervas; alguidar envernizado com
pedras (Coralina, Ametista, Pirita, Mica Rosa, Granada, Ágata de Fogo, Vassoura
da Bruxa etc.); búzios; moedas de cobre e/ou douradas; fitas e linhas
vermelhas; sementes de olho de boi e olho de cabra; incensos; velas vermelhas.
Ervas:
Preferenciais: Patchuli, malva rosa, rosa vermelha, amora, hibisco,
pitanga. Outras: Canela, casca de alho, casca de cebola, folhas de
bambu, folhas de laranja e de limão, raízes, pimentas, olho de cabra, olho de
boi, garra de Pombagira, quebra demanda, espadas de São Jorge e de Santa
Bárbara, comigo-ninguém-pode, erva-de-bicho, arruda, aroeira, guiné, losna,
arnica, manjericão roxo, pinhão roxo, dandá da costa, tiririca, folha de café,
peregum roxo, gengibre, folha de manga, folha de goiaba, pára-raio, picão
preto, eucalipto, folha de pinheiro.
Sementes: Olho
de cabra e de boi.
Fumo/defumação:
Cigarrilha; fumos de ervas específicas enroladas na palha ou queimadas
diretamente.
Incenso:
Rosa vermelha, dama da noite, canela, jasmim.
Pedras:
As Pedras vermelhas e rosas, tais como: Mica Rosa, Granada, Geodos de Ágata de
Fogo. Algumas Guardiãs também trabalham na energia da Pirita e da Vassoura de
Bruxa. (Fonte: Angélica Lisanty, “Os Cristais e os Orixás”, Madras Editora.)
Bebidas:
Suco de morango, de cereja, de acerola, ou de maçã.
Frutas:
Morango, cereja, maçã, romã, acerola, pêssego, laranja, limão; frutas ácidas e
vermelhas em geral.
Flores:
Rosas vermelhas.
Oferenda:
1-Toalha
ou pano vermelho; Velas vermelhas; Fitas vermelhas; Linhas vermelhas; Pembas
vermelhas; Rosas vermelhas; Frutas: maçãs, morangos, uvas rosadas, caqui;
Bebidas: champanhe de maçã, de uva, de sidra, licores. (Fonte: “Rituais
Umbandistas ― Oferendas,
Firmezas e
Assentamentos”, Rubens Saraceni, Editora Madras.)
2-Frutas
vermelhas e/ou ácidas; ervas; flores vermelhas; cigarrilha; uma vela vermelha;
uma garrafa de sidra. Cobrir o chão com as ervas e sobre elas dispor as frutas.
Cercar com as flores. Derramar a bebida em volta. Firmar a vela na frente da
oferenda e acender a cigarrilha, dando três baforadas nos elementos e saudando
Pombagira. Deixar a cigarrilha em pé, à esquerda da vela. Recolher tudo quando
a vela queimar, agradecer e jogar no lixo.
3-Taça
vermelha com sidra, cercada de pétalas de rosas vermelhas e com uma rosa
vermelha colocada dentro da bebida; uma cigarrilha; sete velas vermelhas.
Cercar a taça com as velas, firmando-as e saudando Pombagira. Acender a
cigarrilha, baforar três vezes na direção da taça e colocá-la sobre a taça,
sempre saudando Pombagira (a cada baforada). Pedir proteção, fazer o pedido
específico. Recolher tudo quando as velas queimarem, agradecer e jogar no lixo.
A taça pode ser lavada e reaproveitada.
Cozinha
ritualística:
1-Padê
de licor de menta e Campari― Meio kg de farinha de mandioca fina e crua;
dois copos de licor de menta; dois copos de Campari. Dividir a farinha em duas
partes. Numa se mistura o licor e na outra o Campari. Colocar num prato de
papelão ou alguidar (metade/metade) e enfeitar com rosas vermelhas ou pétalas
dessas rosas.
2-Padê
de champanhe― Meio kg de farinha de mandioca fina e crua; meia garrafa de
champanhe. Misturar e enfeitar com rosas vermelhas ou pétalas.
3-Padês
da Sra. Pombagira Maria Padilha: a- Meio kg de farinha de mandioca crua e
fina, misturada com dois copos de uísque e enfeitada com rosas ou pétalas de
rosas vermelhas; b-Meio kg de fubá; 250 ml de dendê; 200 g de azeitonas pretas;
200 g de camarão; uma cebola em rodelas. Aquecer o dendê, passar o camarão,
depois a cebola, e misturar o fubá. Enfeitar com as azeitonas e rodelas de
cebola.
4-
Padê com corações de frango― Uma porção de farinha de mandioca fina, um
punhado de corações de frango, cebola picada, dendê e mel. Aquecer o dendê e
refogar os corações de frango, juntando a cebola. Regar com mel. Enfeitar com
pétalas de rosas vermelhas. Indicado para suavizar conflitos nos
relacionamentos e para desfazer bloqueios sentimentais e emocionais.
5-
Padê de mel― Um punhado de farinha de mandioca fina e um copo de mel.
Despejar a farinha e ir acrescentando o mel, misturando com a mão esquerda.
Pedir harmonização de situações conflituosas.
6-
Padê com farinha de milho amarela― Um punhado de farinha de milho amarela e
outro de açúcar cristal ou mascavo. Misturar a farinha e o açúcar com a mão
esquerda, pedindo uma orientação e auxílio para questões urgentes. Regar com
champanhe vermelho (escuro).
Saudação:
Laroyê, Pombagira! Pombagira Modjubá!
(Repetir a
saudação três vezes. Em cada vez, bater paô: deixando o polegar de fora,
bater três vezes os outros quatro dedos da mão direita sobre o centro da palma
esquerda. Esta repetição, de três em três, tem o significado de acionar o poder
multiplicador do número três; número que é usado sempre que nos dirigimos ao
Sagrado.)
Texto-
POMBAGIRA- Fonte: O livro “Orixá Pombagira”, de Rubens Saraceni, Madras Editora.
Pombagira
popularizou-se com a expansão da Umbanda e dos demais cultos afro-brasileiros
nos anos 1960/1970. Sua força era indiscutível e seu poder foi usufruído por
todos os que iam se consultar com ela.
Junto
à explosão descontrolada das manifestações de Pombagiras, vieram os males que
acompanham tudo o que é poderoso: os abusos em nome das Entidades Espirituais
(pedidos de jóias e perfumes caríssimos; de vestes ricas e enfeitadas, de
oferendas e mais oferendas caríssimas; de assentamentos luxuosos e ostentativos;
de cobrança por trabalhos realizados por elas, mas recebidos em espécie por
encarnados etc.).
Pombagira
também serviu de desculpa para que algumas pessoas atribuíssem a ela seus
comportamentos no campo da sexualidade.
Porém,
a verdade é que enquanto Mistério da Criação e instrumento repressor da Lei
Maior e da Justiça Divina, Pombagira atua esgotando o íntimo de pessoas e de
espíritos vítimas de desequilíbrios emocionais ou conscienciais, pois essa é
uma de suas muitas funções na Criação.
Na
Umbanda, a Entidade Espiritual Pombagira, que se manifesta incorporada em suas
médiuns, está fundamentada num arquétipo desenvolvido a partir da Entidade
Bombogira, originária do Culto Angola.
Nos
Cultos tradicionais oriundos da Nigéria não havia a Entidade Pombagira ou um
Orixá que a fundamentasse. Mas, quando os nigerianos vieram para o Brasil (por
volta de 1800), eles aqui se encontraram com outros povos e culturas religiosas
e assimilaram a poderosa Bombogira angolana que, muito rapidamente, conquistou
o respeito dos adoradores dos Orixás. Com o passar do tempo, Bombogira
conquistou um grau análogo ao de Exu e muitos passaram a chamá-la de Exu
Feminino ou de mulher de Exu.
Os
mentores espirituais informam que as manifestações de Pombagira são anteriores
à Umbanda e já aconteciam esporadicamente nas “macumbas” do Rio de Janeiro,
como está descrito no livro “As Religiões do Rio”, de João do Rio, livro
reeditado em 2006, mas onde não há uma descrição detalhada dos nomes das
Entidades, e sim, apenas algumas informações, valiosíssimas, ainda que
parciais.
Muitos
autores umbandistas atribuíram-lhe o grau de Exu feminino em razão da falta de
informações sobre essa Entidade e pelo fato de manifestar-se nas Linhas da
Esquerda, ocupadas por Exu e por Exu Mirim. Inclusive, alguns a descreveram
como esposa de Exu e mãe de Exu Mirim. Isso aconteceu pela falta de informações
sobre as manifestações dessas Entidades, até então desconhecidas, que também
nada revelaram sobre seus fundamentos divinos.
Atualmente,
Espíritos mensageiros vêm nos informando que as incorporações de Entidades na
Umbanda têm fundamento nas divindades-mistérios; então, só temos de agradecer
pelo que, finalmente, nos está sendo concedido.
Pai
Benedito de Aruanda, o espírito mensageiro que está nos trazendo a fundamentação
dos mistérios que se manifestam na Umbanda, cobra-nos um rigoroso respeito
pelos umbandistas que semearam a Umbanda, o culto aos Orixás, as linhas de trabalhos
espirituais, a forma do culto umbandista e os nomes aportuguesados dos nomes
africanos que nos chegaram, trazidos pelos nossos antepassados vindos da
áfrica, de toda ela, assim como aos nomes aportuguesados pertencentes ao
tronco lingüístico tupi-guarani. (...)
O
Mistério Pombagira abriu-se por inteiro na Umbanda e tanto pode ser esse
quanto outro nome para identificá-lo porque, enquanto Orixá, seu verdadeiro
nome nunca foi revelado na Teogonia Nagô; ele se encontra oculto entre os 200
Orixás desconhecidos, porque a Pombagira não foi humanizada no tempo como
foram Exu, Oxalá, Iemanjá e todos os outros Orixás do panteão yorubano, muitos
deles desconhecidos pelos umbandistas e por boa parte dos seguidores de
outros cultos afros. (...)
Portanto,
Pambu Njila para o guardião Bantu semelhante ao Exu Nagô e Pombagira para a
guardiã umbandista, Rainha das Encruzilhadas da Vida e Senhora dos Caminhos à
esquerda dos Orixás.
Pomba
é um pássaro usado no passado como correio, “os pombos correios”. Gira é
movimento, caminhada, deslocamento, volta, giro, etc. Portanto, interpretando
seu nome genuinamente português, Pombagira significa mensageira dos caminhos
à esquerda, trilhados por todos os que se desviaram dos seus originais caminhos
evolutivos e que se perderam nos desvios e desvãos da vida.
Num
tempo em que as mulheres eram tratadas como inferiores aos homens e eram
vítimas de maus tratos dos seus companheiros, eis que uma Entidade feminina
baixava e extravasava o “eu interior” feminino reprimido à força e dava vazão à
sensualidade e à feminilidade capazes de subjugar até os mais inveterados
machistas.
Pombagira
construiu um arquétipo forte, poderoso e subjugador do machismo ostentado por
Exu e por todos os homens, vaidosos de sua força e poder sobre as mulheres.
Ela
construiu o arquétipo da mulher livre das convenções sociais, liberal e
liberada, exibicionista e provocante, insinuante e desbocada, sensual e
libidinosa, quebrando todas as convenções que ensinavam que todos os espíritos
tinham que ser certinhos e incorporarem de forma sisuda, respeitável e
aceitável pelas pessoas e por membros de uma sociedade repressora da
feminilidade.
Ela mexeu
com o imaginário popular e muitos a associaram à mulher da rua. Mas todos se
quedaram diante de sua beleza, feminilidade e liberalidade. Sua desenvoltura e
seu poder fascinam até os mais introvertidos que, diante dela, se abrem e
confessam suas necessidades, seus recalques, suas frustrações, suas mágoas,
tristezas e ressentimentos com os do sexo oposto.
E a
todos ela ouviu com compreensão e a ninguém negou seus conselhos e sua ajuda
num campo que domina como ninguém mais é capaz.
Quem
não iria admirar e amar arquétipo tão humano e tão liberalizado de sentimentos
reprimidos à custa de muito sofrimento?
Pombagira
é isto. É um dos mistérios do nosso Divino Criador que rege sobre a sexualidade
feminina. Critiquem-na os que se sentirem ofendidos com seu poderoso charme e
poder de fascinação. Amem-na e respeitem-na os que entendem que o arquétipo é
liberador da feminilidade tão reprimida na nossa sociedade patriarcal onde a
mulher é vista e tida para a cama e a mesa.
A
espiritualidade superior que arquitetou a Umbanda sinalizou a todos que não
estava fechada para ninguém e que, tal como Cristo havia feito, também
acolheria a mulher infiel, mal amada, frustrada e decepcionada com o sexo
oposto e não encobriria com uma suposta religiosidade a hipocrisia das pessoas
que, “por baixo dos panos”, o que gostam mesmo é de tudo o que a Pombagira
representa com seu poderoso arquétipo.
Aos
hipócritas e aos falsos puritanos, Pombagira mostra-lhes que, no íntimo, ela é
a mulher de seus sonhos... Ou pesadelos, provocando e desmascarando seu falso
moralismo, seu pudor e seu constrangimento diante de algo que o assusta e o
ameaça em sua posição de dominador.
Mas
para azar dele e sorte nossa, a Umbanda tem nas suas Pombagiras ótimas
psicólogas que, logo de cara, vão dando o diagnóstico e receitando os
procedimentos para a cura das repressões e depressões íntimas.
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