Omolu é o
Orixá Cósmico assentado no pólo negativo (absorvedor) da Linha da Geração, que
é a sétima Linha de Umbanda, onde polariza com o Orixá Universal Yemanjá.
Enquanto Yemanjá
é a Regente Divina da Geração, Pai Omolu é o Regente do equilíbrio na Criação
Divina.
Yemanjá é a
Mãe da Vida; é maternal, mas autoritária. E Omolu é o Guardião da Vida; é
rigoroso, mas compreensivo, ainda que não o demonstre.
Yemanjá é a
Irradiação Divina que rege sobre a Vida e a Geração dos seres, das criaturas e
das espécies. É a Grande Mãe, é o aspecto Mãe do Criador, é a Mãe de todas as
Águas, simbolizada pelos mares e oceanos. Quem se coloca de forma reta sob a
Sua Irradiação começa a vibrar o amor maternal, que aflora e se manifesta com
intensidade.
As
Irradiações de Mãe Yemanjá atuam de forma contínua sobre toda a Criação,
estimulando a criatividade e o amparo à vida. Seu magnetismo é irradiante e
Suas ondas são retas.
Em
contrapartida, o Orixá Omolu paralisa tudo aquilo que atenta contra os Sentidos
da Vida. É a Presença de DEUS garantindo a Vida e a Geração. É a profundidade
da terra. As Irradiações do Sagrado Pai Omolu garantem o equilíbrio da Criação,
pois atraem para o Seu campo Cósmico todos os seres que se desequilibraram e
passaram a atuar de forma desvirtuada, atentando contra qualquer dos Sentidos
da Vida. O magnetismo de Omolu é absorvente e Suas ondas são alternadas.
Omolu é
também o Orixá que rege a morte física, ou seja, o instante seguinte à passagem
do plano material para o plano espiritual (desencarne).
Mas Omolu
não traz a morte, como alguns parecem imaginar. Na verdade, Ele representa “a
morte” daquilo que atenta contra o Sentido da Vida e da Geração; o que é bem
diferente. E Omolu também não traz a doença. Ele traz, sim, “a morte” da
doença, do desequilíbrio e do vício, para viabilizar a restauração da saúde
geral dos seres desvirtuados e desequilibrados (saúde espiritual, moral,
mental, emocional e física).
Omolu
representa “a morte” no sentido de trazer o fim a um estado de doença ou de
desequilíbrio; e sempre para a preservação da Vida, no sentido mais elevado da
palavra. Ele é um Orixá da Cura, portanto.
Quem age de
má-fé para com o semelhante está “matando” a Fé no outro. Quem engana, trai ou
age de forma negativa no campo do Amor está “matando” o Amor no outro. Quem usa
do Conhecimento ou do dom da palavra para propagar mensagem mentirosa está
divulgando a ignorância e “matando” o dom do Conhecimento. Quem é deliberadamente
injusto para com o semelhante está “matando” o Sentido da Justiça. Quem de
forma deliberada viola o direito do outro está “matando” o Sentido da Lei. Quem
impede que o outro evolua está “matando” o Sentido da Evolução. Quem de alguma
forma atenta contra a vida do semelhante está “matando” o Sentido da Geração.
Tudo isso é atraído para o campo de Pai Omolu, que irá acionar o Seu Fator
Paralisador sobre aquele ser desvirtuado, ativando uma de Suas Linhas de
Esquerda, que será deslocada para “cobrar a dívida”. Não é raro que pessoas
alcançadas por esta atuação acreditem “que “têm algum trabalho feito”, alguma
“demanda” etc., esquecidas de que estão, isto sim, é respondendo perante a Lei
e a Justiça Divinas pelos seus próprios atos.
O ser que
daquela forma se desvirtuou é paralisado nas suas ações negativas, tanto para a
preservação da própria vida e evolução quanto para o equilíbrio da Criação como
um todo. Este é o Divino Mistério de Pai Omolu, O Sagrado Guardião da Vida.
O Mistério
Omolu transcende a tudo, vai além do que possamos imaginar. Mas algumas lendas
o limitaram a alguns de seus aspectos vistos como punitivos, tornando-o temido
por muitos.
Se Omolu
rege sobre o cemitério e sobre os espíritos dos mortos, é porque esses
espíritos atentaram contra a vida ou algum dos seus Sentidos. Logo, só deve
temê-LO quem proceder de forma desvirtuada.
“A
cada um, segundo o seu merecimento”, diz a Lei Maior. E o Mistério Omolu aplica
este princípio em seu aspecto negativo ou absorvedor. Ou seja, aplica-o quando
o espírito atuou de forma desvirtuada e atraiu para si a força corretiva da Lei
Maior, para então paralisar e esgotar seus vícios e desequilíbrios.
Podemos
dizer: “A cada um, segundo seus atos”. Sendo positivos, que seus autores sejam
conduzidos à Luz da Vida. Mas se foram negativos, que sejam levados para os
sombrios domínios “da morte dos sentidos e dos sentimentos desvirtuadores da
vida”.
Omolu
encaminha para a faixa vibratória correspondente aquele espírito que muitas
vezes atentou contra a Vida e a Geração, para “secar” os sentimentos e sentidos
desvirtuados que deram origem às suas atuações degeneradas. Esgotadas todas as
negatividades daquele ser, então ele estará pronto a recomeçar sua caminhada
evolutiva.
Omolu é o
Guardião Divino dos espíritos caídos. E é preciso muito AMOR para recolher os
caídos. É preciso muito AMOR para “não desistir” dos caídos. É preciso muito
AMOR para resgatar, abraçar, velar e regenerar um ser que deliberadamente se
envolveu na podridão da maldade. E esta é a natureza do AMOR do Divino Pai
Omolu por nós. Ele é o “último abrigo” dos caídos, a esperança da regeneração e
do recomeço. Como temer esta Divindade? Não!
Não devemos
temer Pai Omolu, mas sim reverenciá-LO como o Grande Velador da Vida, que atua
no silêncio das eras para preservar a Vida e a Geração, garantindo o equilíbrio
de toda a Criação. Ao envolver nas Suas Irradiações os seres negativados, Pai
Omolu também está protegendo a existência daqueles que caminham na via reta,
não podemos nos esquecer disso. Ele é quem garante “a eficácia”, digamos assim,
das Divinas Irradiações de Mãe Yemanjá, como o Seu Par Divino complementar.
Nas
primeiras sociedades tribais, o ser humano temia tudo aquilo que não
compreendia: o ambiente inóspito, as bruscas mudanças climáticas, a aridez da
terra, o sol ou a chuva excessivos, a escassez de alimentos, as doenças que não
conhecia e a própria morte. Via, nessas dificuldades, “a presença de deuses
terríveis que vinham castigá-lo”. Sentia-se, talvez, ”separado” do Divino,
submetido e subjugado por forças que não compreendia. Mais tarde, quem sabe,
atribuir caracteres humanos punitivos e até vingativos aos seus deuses foi um
meio de preservar na memória das gerações futuras o culto a algo bem maior do
que a existência terrena, já que tudo era transmitido de boca a ouvido.
Seja como
for, o tempo passou. Hoje temos recursos para compreender muitos desses
fenômenos e contorná-los. A nossa vida não é mais uma luta por sobrevivência.
Estamos despertando para a compreensão de um novo existir. Doença e morte não
podem mais ser vistos como “inimigos” ou “castigos”, pois são apenas estágios,
são passagens, são caminhos para outras condições, situações e realidades. A
continuidade da vida além da morte física já foi comprovada por várias
maneiras. Ciência e Religião começam a andar de mãos dadas, cada uma no seu
campo específico, na busca de explicações para muitas coisas que antes pareciam
“sobrenaturais”. A Ciência já comprovou que tudo é energia; o que chamamos de
matéria são apenas formas de arranjos das energias. Vida e morte são duas faces
de uma mesma moeda, são arranjos, são transformações da Energia Criadora.
Alguma coisa “morre” para se tornar em algo maior, mais complexo, mais
aperfeiçoado, mais sutil. A “morte” é apenas o despir-se de um invólucro grosseiro,
para se obter vestimenta mais elevada. O espírito que reencarna “morre” no
plano astral; e o que desencarna “morre” no plano das formas para voltar ao
plano espiritual.
A Vida
prossegue, sempre. E todo esse processo Divino é regido pelas Divindades de
Deus, que na Umbanda Sagrada chamamos de Orixás. Todos os estágios da nossa
existência são regidos pelos Sagrados Orixás. Precisamos nos dedicar a
compreender as atuações dessas Divindades, num exercício de fé raciocinada,
para despertarmos a nossa Essência Divina e nos colocarmos como parte viva e
inseparável desse Todo que é Deus e a Criação. Tudo é Deus, tudo é regido por
Deus, por meio dos Sagrados Orixás. Não temos razão para temê-LOS, mas sim para
reverenciá-LOS e amá-LOS, como nossos Pais e Mães Divinos.
O Orixá
Omolu não pode ser temido pelos umbandistas, pois a Umbanda Sagrada nos revela
que Ele é o nosso Pai da Vida, que tudo faz para nos preservar dentro das Leis
Divinas que regem o Sentido da Vida e da Geração.
Como bem
explica Rubens Saraceni, no processo Divino da Vida, Mãe Oxum agrega ou funde o
espermatozóide com o óvulo; Mãe Yemanjá é o processo genético que inicia a
multiplicação celular; Pai Ogum ordena essa multiplicação celular, que é
comandada por Pai Oxóssi, direcionada por Mãe Yansã, equilibrada por Pai Xangô,
estabilizada por Pai Obaluayê e cristalizada (num novo ser) por Pai Oxalá.
Neste
processo, o Fator Paralisante ou Paralisador gerado por Pai Omolu é fundamental
para o equilíbrio da Vida, porque Ele é o Mistério Divino que vai atuar onde
houver uma geração ou criação desvirtuada ou desvirtuadora. Ele paralisa e
esgota a energia caótica ou a criação degenerada ou viciada.
DEUS Cria e
Gera, mas também paralisa a criação que não mais atenda aos SEUS desígnios e
paralisa a geração que não atenda à SUA Vontade. Esta Qualidade Divina,
representada por Pai Omolu, é um recurso para paralisar tudo e todos que
estiverem criando ou gerando em sentido contrário (desvirtuado) ao que Deus
estabeleceu como correto (virtuoso). E Omolu guarda para OLORUM (DEUS) todos os
espíritos que fraquejaram na sua jornada carnal por se entregarem aos seus
vícios emocionais.
Mas Omolu
não pune ou castiga ninguém, pois estas ações competem à Lei
Divina.
Os Tronos da
Geração (Feminino: Yemanjá; Masculino: Omolu) regem sobre este aspecto da
Gênese (toda a Vida, toda a Geração), e não apenas sobre o sexo.
Sabemos que:
Minerais
afins fundem-se e dão origem aos minérios;
Elementos
afins fundem-se e dão origem a novos elementais;
Energias
afins fundem-se e dão origem a novas energias;
Cores afins
fundem-se e dão origem a novas cores;
Seres afins
(machos e fêmeas da mesma espécie) fundem-se e dão origem a novos seres.
Em todos
esses processos, Mãe Yemanjá é a “Mãe da Vida”; e Pai Omolu é o Guardião Divino
que paralisa tudo o que atenta contra a Vida, que paralisa todas as criações ou
gerações desvirtuadas dos seres, dando estabilidade à Criação. (Do livro
“Gênese Divina de Umbanda Sagrada”, páginas 233/236 e 270/272, Rubens Saraceni,
Madras Editora, 2005.)
Na Umbanda,
Pai Omolu é associado ao planeta Plutão e aos números 12 e 13.
Na
Astrologia, Plutão é um astro que provoca atração, mas também repulsa, além de
mudanças, alterações, a destruição e a reconstrução de novos ciclos na vida
humana.
Na
Mitologia, ele representa o inferno, o invisível e o misterioso.
No mapa
astral de uma pessoa, a localização de Plutão mostra onde sua alma terá a
possibilidade de “morrer para o que é inferior”, para renascer transformada e
melhorada. O ser passará por essa “morte” ao descer ao próprio íntimo, para
enfrentar seus medos, enxergar seus fantasmas e curar suas feridas internas,
fazendo uma opção consciente por tornar-se um profundo investigador de si mesmo
e de qualquer situação que possa vivenciar, de modo que possa ir além do que as
aparências indicam. É uma espécie de mergulho no inconsciente, que permitirá o
despertar da alma. Caso contrário, a pessoa terá de viver com seu lado sombrio,
negativo, tempestuoso, destruidor e, às vezes, até vingativo.
Logo, a
associação de Pai Omolu ao planeta Plutão evidencia a natureza paralisadora
desta Divindade, no tocante ao que é negativo para a vida e a evolução dos
seres.
Quanto ao
número 12, também associado ao Orixá Omolu, é um número que, em síntese,
simboliza um ciclo completo, a ordem cósmica. E isso também está implícito na
atuação deste Orixá, que traz “a morte” dos atos que atentam contra a Vida e a
Geração, para garantir o equilíbrio da Criação.
O doze é o
produto da multiplicação do número três pelo número quatro.
O número
três representa o Espírito (essência Divina), a Trindade (Pai/Mãe/Filho;
espírito/mente/corpo).
O número
quatro representa a matéria, a estruturação material, o plano material.
Então, o
número doze simboliza a manifestação do espiritual (3) no plano material (4). É
DEUS que SE manifesta na matéria.
E o número
treze, igualmente relacionado ao Pai Omolu, simboliza os processos de
transformação (“a morte” do que não serve mais, para um recomeço evolutivo).
História
1-Origens
de Omolu.
Na
antiga África, havia regiões onde os nomes Omolu e Obaluaiê eram considerados
duas qualidades de uma mesma divindade. Era comum chamá-los de Omolu-Obaluaiê e
de Obaluaiê-Omolu.
Em algumas
tradições, tais nomes designavam duas qualidades da divindade Omolu: Obaluaiê
era a designação do Omolu Jovem, mais agressivo; e Omolu era o nome reservado
para o Omolu Velho, mais introspectivo e severo.
Em outras, a
divindade era Obaluaiê: sua qualidade Jovem era o Obaluaiê, propriamente; e o
Obaluaiê Velho era chamado de Omolu.
Havia ainda
povos do continente africano que cultuavam Omolu e Obaluaiê como divindades
distintas.
Essas
diferentes interpretações ainda hoje podem ser encontradas no Candomblé do
Brasil, por influência das respectivas matrizes africanas.
Outro nome
que na África era associado tanto a Omolu quanto a Obaluaiê é Xapanã
(Sànpònná), geralmente reservado como designativo do deus da varíola.
Acreditava-se que ele punia os malfeitores com a terrível doença, que na época
causou muitas mortes. Por isso, o nome Xapanã era temido e não poderia ser
pronunciado; se alguém o fizesse, teria de lavar a boca com mel. Mas existem
lendas contando que noutras regiões Xapanã era reverenciado como Curador, e não
como um deus temido.
Há uma
grande variedade de tipos de Omolu (guerreiros e não guerreiros; de idades
diferentes; com ligações ou caminhos com outras divindades etc.), mas resumidos
pelas configurações básicas do Velho e do Moço.
São muitos
os nomes relacionados a esta divindade, às vezes dentro de uma mesma região.
Entre eles, temos: Skapatá, Omolu Jagun, Quicongo, Sapatoi, Iximbó, Igui. Isso
indica a existência de mitos semelhantes em diferentes grupos tribais da mesma
região. O continente africano era imenso, e habitado por povos de culturas
muito diferentes entre si, justificando-se essa variedade de interpretações.
Pierre
Verger pesquisou as religiões da antiga África e lá viveu por muito tempo;
assim como estudou e vivenciou o Candomblé brasileiro. Por isso, seus
registros e informações são importantes, dentro do tema.
No seu livro
“Orixás”, Verger fala da confusão que existe a respeito de Xapanã, Obalúayé,
Omolu e Molu, pois em alguns lugares eles se misturam; enquanto em outros são
considerados deuses distintos. E que Nanã Buruku é também confundida com
eles.
Verger
mostra que em algumas regiões há um sincretismo entre duas divindades:
Sànpònná- Obalúayé, que veio do leste (onde Nanã é Nàná-Buruku) e Omolu-Molu
(vindo do oeste, onde Nanã é Nàná-Brukung). As duas divindades se juntaram e
tomaram o caráter único de Keto. Outra hipótese: seria uma divindade única,
trazida por migrações leste-oeste (como as dos Ga, que foram de Benim para
região de Accra, durante o reino de Udagbede, no fim do século XII), e que
depois foi levada para seu lugar de origem com um novo nome que, inicialmente,
era apenas um epíteto.
Em Tapá, a
divindade Xapanã (Sànpònná) seria o correspondente a Omolu. Mas este nome
também aparece associado à divindade Obaluaiê.
Os povos
Jêjes, de língua Fon, tinham como divindades os Voduns. A divindade Jêje
correspondente a Omolu-Obaluaiê era Sapatá-Ainon, que significa “Dono da
Terra”.
O culto Jêje
a Sapatá se difundiu na região Mahi, na aldeia chamada Pingini Vedji, perto de
Dassa Zumê, porém trazido pelos Nagôs. Em Savalu (região ao norte do Daomé,
também na região Mahi), confirma-se a versão de que os Nagôs assimilaram e
difundiram esse culto. Conta-se que, liderados por Ahosu Soha, os Jêjes fugiam
das regiões destruídas pelas campanhas dos reis de Abomey contra seus vizinhos
do leste, vindo a estabelecer-se naquela localidade. Durante seu percurso,
Ahosu Soha encontrou em Damê, no rio Weme, os Kadjanu, Nagôs originários da
região do Egbadô. Estes Nagôs se dirigiam também para o norte e se juntaram a
Ahosu Soha, para se estabelecerem em Savalu, com seu deus Agbosu.
Essa origem
Nagô-Iorubá é também revelada por dois fatos: durante sua iniciação, as pessoas
dedicadas a Sapatá (os sapatasi) são chamadas de ànàgonu (anago ou nagô); e a
língua usada no ritual de iniciação e nas orações é o iorubá primitivo, ainda
falado diariamente pelos Aná.
Enquanto os
Jêjes cultuavam o Vodun Sapatá, os povos Nagôs (de língua iorubá) tinham
divindades semelhantes, denominadas Orixás, e as chamavam de Obaluaiê e
Omolu,
indistintamente.
Verger
comenta haver relatos sobre a existência de dois Xapanã. Um era Sànpònná-Airo,
de origem Tapá. O outro teria vindo do Daomé para Oyó e era chamado
Sànpònná-Boku, nome que o aproxima de Nanã Buruku e que também revelaria os
laços existentes entre Obaluaiê e Nanã.
Sombrio e
grave como Nanã (sua mãe) e como Iroko e Oxumaré (seus irmãos), Omolu é,
portanto, uma divindade da cultura Jêje, depois assimilada pelos Nagôs.
A
comprovação de que as divindades Jêjes são mais antigas que as dos
Nagôs-Iorubás foi estudada por Pierre Verger, como já foi visto, com base nas
guerras e movimentos migratórios dos povos africanos, quando os conquistadores
muitas vezes encontravam entre os povos dominados divindades mais antigas e
para eles desconhecidas, e vice-versa; e acontecia de uns assimilarem as
divindades dos outros. Mas um fator decisivo apontado por Verger, também com
base em registros históricos, é o fato da não utilização de instrumentos de
ferro nos rituais de sacrifício animal para Omolu, Obaluaiê e Nanã; indício de
que eram divindades cultuadas antes da Idade do Ferro e, portanto, também
anteriores a Ogum (considerado o dono do ferro e de todos os metais).
Um aspecto
interessante a ser analisado diz respeito às diferenças de arquétipo entre os
mitos dos vários povos africanos.
As
divindades dos Nagôs (os Orixás) são extrovertidas, alegres e têm
características de comportamento (ciúmes, temperamento guerreiro, docilidade,
irritação etc.) que as identificam e aproximam dos seres humanos.
As
divindades Jêjes (os Voduns) apresentam um comportamento mitológico austero,
grave e ameaçador, decorrente de uma visão religiosa na qual há um maior
distanciamento entre deuses e humanos. Qualquer aproximação dos deuses era
motivo para se temer uma tragédia; e daí vinha o conceito de que a divindade
trazia a morte, a doença etc.
No encontro
dessas duas culturas, os Nagôs-Iorubás passaram a ver as divindades mais
sombrias dos Jêjes como fonte de perigo e temor. No caso específico de Omolu,
ele seria o registro da passagem de castigos sociais, ficando relacionado a
epidemias (como a varíola, que na época dizimava comunidades inteiras).
Acreditava-se que Omolu castigava com violência o ser humano que faltasse com
ele ou com um filho seu. Dentro dessa visão, uma negociação ou um aplacar da
atuação de Omolu era difícil de obter; sendo mais provável de ser alcançada em
relação aos Orixás dos Nagôs-Iorubás (menos severos e mais “humanos”).
Na tradição
africana, Omolu é filho de Nanã e Oxalá.
É irmão
carnal de Iroko e Oxumaré e irmão adotivo de Ogum e Exu.
Seu
parentesco com Oxumaré e Iroko é observado em Ketu, onde se pode ver uma lança
(okó Omolu) cravada na terra e esculpida em madeira, na qual figuram Omolu,
Oxumaré e Iroko. Também é observado em Fita, próximo de Pahougnan, território
Mahi, onde o rei Oba Sereju recebeu o fetiche Moru, composto de três fetiches:
Moru (Omolu), Dan (Oxumaré) e Loko (Iroko).
Segundo as
lendas, Omolu é, ainda, o irmão mais velho de Xangô Ajaká.
E porque
Xangô destronou um Omolu velho e assumiu seu lugar, existiria uma rivalidade
entre os dois Orixás. Por este motivo, filhos de Omolu não participam da roda
de Xangô; no Olubajé, a grande cerimônia em honra de Obaluaiê-Omolu, não entra
amalá (comida tradicional de Xangô); e na comida de Xangô não entram as pipocas
(comida ritual de Omolu e de Obaluaiê).
2-Características
de Omolu na África antiga e nas religiões derivadas.
Na
África, Omolu está relacionado ao interior da terra (ninù ilé) e também ao
fogo, já que este elemento domina as camadas mais profundas do planeta, como
comprovam os vulcões em erupção.
Sua ligação
é com a terra seca e quente como o calor do fogo e do sol; calor que lembra a
febre das doenças infecto-contagiosas. Omulu representa a terra e o sol. Ele é
o próprio sol e por isso usa uma coroa de palha que lhe cobre a face, porque
ninguém pode olhar diretamente para o sol.
Toda a
reflexão em torno de Omolu costuma ocorrer colocando-o como um Orixá ligado à
terra, o que é correto. Mas, na visão africana, não se desconsidera a sua
relação com o fogo do interior da terra, com as lavas vulcânicas, com os gases
etc. Afinal, o que pode ser mais devastador que o fogo? Só as epidemias, as
febres e as convulsões lançadas por Omolu. A sua matéria de origem é a terra e,
como tal, Omolu é o resultado de um processo anterior.
Seu poder
está extraordinariamente ligado à morte. Ele detém o poder sobre os espíritos e
os ancestrais, que o seguem. Sob o seu manto de palha, Omolu esconde o mistério
da morte e do renascimento. Ele é a própria terra que recebe os nossos corpos
para que se tornem pó. É o Senhor dos cemitérios. Acredita-se que quando morre
uma pessoa, Omolu senta-se em cima do corpo, reivindicando seus direitos. Para
muitos, Omolu é o médico dos pobres. Omolu-Obaluaiê andou por todos os cantos
da África, muito antes de surgirem algumas civilizações, porque é anterior à
Idade dos Metais. Na sua peregrinação, ele conheceu todas as dores do mundo,
superou todas e se tornou o médico dos pobres ao salvar a vida dos
necessitados, muito antes que houvesse a ciência.
Assim como
Nanã, Omolu é o patrono dos kauris (búzios).
Ele carrega
uma lança de ferro e veste um capuz de palha da costa ornado de búzios e
cabaças; traje de grande significado e indispensável em todo ritual ligado à
morte e ao sobrenatural.
O ikó é a
fibra da ráfia, obtida das palmas novas de Yigyogóro (a palmeira do dendê ou
dendezeiro), árvore sagrada. A palha é obtida dos talos centrais da palmeira
ainda nova, antes que as suas folhas se abram e se curvem.
O fato de
Omolu cobrir-se com ikó e de ornar-se com búzios e cabaças mostra que estamos
na presença de um Orixá ligado diretamente com a morte e que suas atuações
estão envoltas em mistérios que somente os iniciados podem acessar.
Uma versão
fala que essa vestimenta lhe foi dada por Ogum. Outra, que ele a recebeu de seu
irmão Oxóssi. Uma terceira diz que foi Yemanjá quem a teceu. Todas as lendas
narram que ele a recebeu para cobrir suas chagas e, principalmente, para cobrir
os próprios olhos, pois eles contêm o brilho do sol e quem os olhasse
diretamente ficaria com a visão prejudicada.
Omolu é o
dono da terra.
A ele
pertencem todos os grãos, e ele é quem nos dá todo o tipo de alimentos. Por
isso, também é muito associado aos troncos e aos ramos das árvores.
Suas comidas
secas (isto é, em que não há sacrifício animal) incluem água, milho branco,
acaçá, aberém sem tempero, arroz, feijão preto com dendê, pipocas (“latipá
doburu”), verduras refogadas no dendê (efó).
Entre as
comidas secas, as quizilas (euós ou proibições) são: peixe de pele, feijão,
caranguejo, jaca, folhas trepadeiras. E os filhos deste Orixá não podem fazer
uso da cachaça.
Os animais
tradicionalmente oferendados a Omolu são: porco, cabrito, galos carijós,
frangos rajados, galinha d'angola, tatu, cágado, patos pretos e brancos.
Sua grande
“quizila” (euó) é o carneiro.
Ele
transporta o axé preto, vermelho e branco.
Quanto aos
fios de contas, o colar tradicional de Omolu é o laguidibá, feito de pequenas
sementes de palmeira importada, ou então talhadas em pedaços de casca de coco,
sempre bem juntas e de cor preta.
Também são
usados os brajás de búzios brancos, numa associação aos mortos.
Outras
opções: colares de contas de louça marrom com riscas pretas; ou de contas de
louça vermelha com riscos pretos.
A qualidade
Omolu Jagun usa laguidibá vermelho e também contas de louça vermelhas e pretas alternadas.
Na Tradição
Angola, Omolu (o Velho) usa miçangas pretas e brancas. E Obaluaiê (o Moço)
geralmente usa contas pretas, vermelhas e brancas. Dependendo da qualidade,
usará o amarelo, o preto e o marrom.
No Ketu, a
cor branca simboliza o frio, a imobilidade, o silêncio, a criação e a morte. A
cor preta é
associada à terra e aos mortos. O vermelho simboliza o sangue, a guerra, o
fogo, a geração e o movimento. O marrom tem o mesmo simbolismo que o vermelho.
E o amarelo é uma cor benéfica, que lembra a riqueza, a fecundidade e a
fertilidade.
Na
preparação dos colares nunca se usam fios plásticos, de náilon ou sintéticos.
No Culto de
Nação e no Candomblé, Omolu é associado ao número 14. Por esse motivo, seus
colares são
de 14 fios e com 14 firmas (ou em número relacionado a 14).
Sua saudação
é ATÓTÓ- que quer dizer: silêncio, calma. Uma reverência ao Grande Orixá Velho,
diante do qual devemos manter silêncio, submissão e respeito.
No Candomblé
o dia consagrado a Omolu é a segunda-feira.
3- A dança
de Omolu no Candomblé Jêje-Nagô
O
Olubajé é a grande cerimônia realizada no Candomblé para saudar Omolu (filho do
senhor), bem como Obaluaiê (rei da terra), Onilé (senhor da terra) e Sapatá e
Xapanã (deus da varíola). É celebrado nas Casas de Candomblé do Rio de Janeiro
e de Salvador/Bahia e nos chamados Terreiros Nagô ou Jêje-Nagô da cidade de São
Paulo.
É um
banquete, onde o Orixá recebe de sete a vinte e uma comidas rituais, que são
colocadas em potes e alguidares, sobre folhas especiais, esteiras e panos do
mais puro branco.
Participam
do banquete, também recebem oferendas e dançam com Obaluaiê-Omolu
os Orixás da
sua família mítica.
Oxumaré (seu
irmão) é o primeiro a dançar; após, vem Nanã (sua mãe); em seguida, Yemanjá (a
mãe adotiva); depois, Yansã (a amiga e companheira que reina com ele sobre os
espíritos dos mortos). Fechando a noite de gala, vem Oxalá, “o pai da criação”.
No dia da
festa, a coluna central do espaço sagrado é envolvida por grandes laços de
tecidos multicoloridos, de onde sobressaem o branco, o preto e o vermelho, que
são as cores de Omolu. Da coluna central partem guirlandas de longos e
numerosos fios de pipocas, formando uma espécie de “segundo teto” do barracão.
Há uma
sequência de toques dos atabaques, para cada momento da grande celebração, e
dependendo de qual divindade é saudada ou se faz presente entre os devotos.
Pois o som carrega axé, e o ritmo tem uma natureza idêntica à natureza do
Orixá. Alguns toques são acompanhados de cânticos e louvações.
Omolu dança
ao toque Opanijé.
Ele dança
com o corpo curvado para a terra e faz movimentos lentos ora para a direita,
ora para a esquerda. Veste sua roupa de palha (azê) e carrega um cetro (xaxará)
e uma lança de ferro (okó).
Durante a
cerimônia, os devotos são abençoados, diversas vezes, com o derramamento de
pipocas consagradas, com a finalidade de purificação e cura. [*Nota: O ritual
do Olubajé é descrito de forma detalhada no livro “O Banquete do Rei -
Olubajé”, de José Flávio Pessoa de Barros, Editora Pallas.]
Nas demais
celebrações do Candomblé Ketu, a dança de Omolu geralmente se faz também ao
toque Opanijé (usado no Olubajé, e igualmente dedicado a Obaluaiê, Onilé,
Sapatá e Xapanã). É um ritmo lento, marcado por batidas fortes do Run (o
atabaque maior do conjunto, de tom grave), e tem poucas cantigas, sendo na
maioria das vezes apenas instrumental.
Dentro dos
ritmos Jêje, a dança de Omolu acontece ao toque Vivauê.
Os ogãs
precisam ter respeito pelos atabaques, pois a Omolu pertencem os couros e
Ele é o
padrinho de todos os ogãs. Quando se faz oferenda aos atabaques, também se faz
a Omolu.
4-Em
resumo:
Obaluaiê
ou Omolu- Na África, esses nomes geralmente se referem às fases míticas,
onde o mesmo
deus seria mais jovem ou mais velho.
Omolu é a
energia que rege as pestes (como a varíola, o sarampo, a catapora), as doenças
de pele e as doenças transmissíveis em geral.
Também, e
principalmente, é o “onixegum” ou “nixegum” médico, curandeiro, médico dos
orixás- no dizer dos Candomblés da Bahia.
Omolu rege
também:
*a força da
terra (herdada de sua filiação a Nanã);
*a umidade
da terra (porque foi adotado por Yemanjá);
*e as
doenças das plantações.
Ele
representa:
*o ponto de
contato do homem com o mundo (a terra);
*a interface
pele-ar;
*a aparência
das coisas estranhas e a relação com elas.
No aspecto
positivo, ele rege e cura, através da morte e do renascimento.
Em
Salvador/Bahia, todo dia 16 de agosto, em frente à igreja de São Lázaro,
diversos devotos de São Lázaro, de Omolu e de Obaluaiê recebem os populares
banhos de pipocas (as flores de Omolu-Obaluaiê), no intuito de se livrarem de
doenças e de evitá-las. Quando o assunto é doença, as promessas geralmente são
dirigidas a Obaluaiê (o jovem médico), ou a Omolu (o velho médico).
Os Iorubás
acreditam que este mito ou divindade nos mostra que o mal existe e que
pode ser
curado; mas, principalmente, que é preciso ter consciência do momento em que
ele terminou, para que saibamos recomeçar depois de um sofrimento violento.
Lendas
1-Omolu
se torna o grande curador
Quando Omolu
era um menino de uns doze anos, saiu de casa e foi para o mundo para fazer a
vida. De cidade em cidade, de vila em vila, ia oferecendo seus serviços,
procurando emprego. Mas não conseguia nada. Ninguém lhe dava o que fazer,
ninguém o empregava; e ele teve que pedir esmola. Mas ao menino ninguém dava
nada, nem do que comer, nem do que beber. Tinha um cachorro que o acompanhava,
e só.
Omolu e seu
cachorro retiraram-se no mato e foram viver com as cobras.
Omolu comia
do que a mata dava: frutas, folhas e raízes. Mas os espinhos da floresta feriam
o menino. As picadas de mosquitos cobriam-lhe o corpo. Omolu ficou coberto de
chagas. Só o cachorro confortava Omolu, lambendo-lhe as feridas.
Um dia,
enquanto dormia, Omolu escutou uma voz:
“Estás pronto. Levanta e vai cuidar do povo.”
“Estás pronto. Levanta e vai cuidar do povo.”
Omolu viu
que todas as feridas estavam cicatrizadas, não tinha dores nem febre. Juntou
suas cabacinhas de água e remédios que aprendera a usar com a floresta,
agradeceu a Olorum e partiu.
Naquele
tempo, uma peste infestava a Terra. Por todo lado morria gente, todas as
aldeias enterravam seus mortos. Os pais de Omolu consultaram um babalaô, que
lhes disse que Omolu estava vivo e que ele traria a cura para a peste. E assim
foi.
Todo lugar
aonde chegava, a fama precedia Omolu. Todos o esperavam com festa, pois ele
curava. Os que antes lhe negaram até mesmo água de beber agora imploravam por
sua cura. Ele curava a todos, afastava a peste. Então dizia que se protegessem,
levando na mão uma folha de dracena (o peregum) e pintando a cabeça com efum,
ossum e uági (os pós de cor branca, vermelha e azul usados nos rituais e
encantamentos). Omolu curava os doentes e, com o xaxará, varria a peste para
fora da casa, para que a praga não pegasse outras pessoas da família. Limpava
as casas e aldeias com o xaxará, sua mágica vassoura de fibras de coqueiro, seu
instrumento de cura, seu símbolo, seu cetro.
Ao voltar
para casa, Omolu curou os pais. Todos estavam felizes. Todos cantavam e
louvavam o curandeiro e o chamaram de Obaluayê (Senhor da Terra). Todos davam
vivas ao Senhor da Terra, Obaluayê. (Reginaldo Prandi, “Mitologia dos Orixás”,
2005.)
2-Como
Omolu ganhou suas chagas e foi curado por Yemanjá
Por causa do
feitiço usado por Nanã para engravidar, Omolu nasceu todo deformado. Desgostosa
com o aspecto do filho, Nanã abandonou-o na beira da praia, para que o mar o
levasse. Um grande caranguejo encontrou o bebê e atacou-o com as pinças,
tirando pedaços da sua carne.
Quando Omolu
estava todo ferido e quase morrendo, Yemanjá saiu do mar e o encontrou.
Penalizada, acomodou-o numa gruta e passou a cuidar dele, fazendo curativos com
folhas de bananeira e alimentando-o com pipoca sem sal nem gordura, até que o
bebê se recuperou. Então Yemanjá criou-o como se fosse seu filho.
3-Xapanã
ganha o segredo da peste na partilha dos poderes de Olodumare
Olodumare um
dia decidiu distribuir seus bens. Disse aos seus filhos que se reunissem e
repartissem entre si as riquezas do mundo. Ogum, Exú, Ocô, Xangô, Xapanã e os
outros orixás deveriam dividir os poderes e mistérios sobre as coisas na Terra.
Num dia em
que Xapanã estava ausente, os demais orixás se reuniram e dividiram todos os
poderes entre si, não deixando nada de valor para Xapanã. Um ficou com o
trovão; o outro recebeu as matas; outro quis os metais; outro ganhou o mar.
Escolheram o ouro, o raio, o arco-íris; levaram a chuva, os campos cultivados,
os rios. Tudo foi distribuído entre eles, cada coisa com seus segredos, cada
riqueza com o seu mistério. A única coisa que sobrou sem dono, desprezada, foi
a peste.
Ao voltar,
nada encontrou Xapanã, a não ser a peste, que ninguém quisera.
Xapanã
guardou a peste para si, mas não se conformou com o golpe dos irmãos. Foi
procurar Orunmilá, que lhe ensinou a fazer sacrifícios, para que seu enjeitado
poder fosse maior que o dos outros. Xapanã fez sacrifícios e aguardou.
Um dia, uma
doença muito contagiosa começou a espalhar-se pelo mundo. Era a varíola. O
povo, desesperado, fazia sacrifícios para todos o orixás, mas nenhum deles
podia ajudar. A varíola não poupava ninguém, era uma mortandade. Cidades, vilas
e povoados ficavam vazios.
O povo foi
consultar Orunmilá para saber o que fazer. Ele explicou que a epidemia
acontecia porque Xapanã estava revoltado, por ter sido passado para trás pelos
irmãos. Orunmilá mandou fazer oferendas para Xapanã. Só Xapanã poderia
ajudá-los a conter a varíola, só ele tinha o poder sobre as pestes, só ele
sabia os segredos das doenças. Tinha sido esta sua única herança.
Então, todos
pediram proteção a Xapanã e sacrifícios foram realizados em sua homenagem. A
epidemia foi vencida. E Xapanã agora era respeitado por todos. Seu poder era
infinito, o maior de todos os poderes.
4-Omolu
ganha pérolas de Yemanjá
Omolu foi
salvo por Yemanjá quando sua mãe, Nanã Buruku, ao vê-lo doente e coberto de
chagas, abandonou-o numa gruta perto da praia.
Yemanjá
recolheu Omolu e o lavou com a água do mar. O sal da água secou suas feridas.
Omolu tornou-se um homem vigoroso, mas ainda carregava as cicatrizes, as marcas
feias da varíola.
Yemanjá
confeccionou para ele uma roupa toda de ráfia, com a qual ele escondia as
marcas de suas doenças. Era um homem poderoso, andava pelas aldeias e, por onde
passava, deixava um rastro ora de cura, ora de saúde, ora de doença, Mas
continuava sendo um homem pobre.
Yemanjá não
se conformava com a pobreza do filho adotivo. Ela pensou:
“Se eu dei a ele a cura, a saúde, não posso deixar que seja um homem pobre”. E
ficou imaginando quais riquezas poderia lhe dar.
Yemanjá era
a dona da pesca, tinha os peixes, os polvos, os caramujos, as conchas, os
corais. Tudo aquilo que dava vida ao oceano pertencia a sua mãe, Olocum, que
dera tudo a Yemanjá.
Yemanjá
resolveu então ver suas jóias. Tinha algumas, mas enfeitava-se mesmo era com
algas, com água do mar, vestia-se de espuma e se admirava com o reflexo de Oxu,
a Lua. Yemanjá se lembrou de que tinha uma grande riqueza, que eram as pérolas
que as ostras fabricavam para ela. Muito contente com esta lembrança, chamou
Omolu e lhe disse:
“De hoje em diante, és tu quem cuida das pérolas do mar. Serás chamado de Jeholu,
o Senhor das Pérolas”.
Por isso as
pérolas pertencem a Omolu. Por baixo de sua roupa de ráfia, enfeitando seu
corpo marcado de chagas, Omolu ostenta colares e mais colares de pérola,
belíssimos colares. (“Mitologia dos Orixás”, Reginaldo Prandi, 2005.)
Divindades
assemelhadas
Hades-
Divindade grega. Deus dos mortos, que morava no mundo subterrâneo. Filho de
Cronos e Réia. Tem um cão de três cabeças (Cérbero), que fica na entrada do
mundo subterrâneo, desempenhando a função de seu guardião, para evitar que os
vivos entrassem e para assustar os mortos que chegavam. Entre os romanos, é
Plutão.
Yama-
Divindade hindu masculina da morte. No Ramayana, ele se passa por cachorro,
salvando Rama da morte.
Anúbis-
Divindade egípcia masculina da morte; o grande juiz dos mortos.
Arawn-
Divindade celta da morte. Aparece sempre acompanhado de lobos brancos.
Iwaldi-
Divindade escandinava. É “o anão da morte”, que esconde a vida no fundo do
oceano.
Tung-Yueh
Ta-ti (Tong Yue Dadi)- Divindade chinesa do sagrado monte Tai Shan e dirigente
do mundo subterrâneo. É ele quem calcula, num ábaco, o tempo de vida que cada
um tem na Terra. Senhor da morte, é responsável pelo desencarne.
Mictlantecuhtli-
Divindade asteca. Deus da morte, Senhor de Mictlán, o reino silencioso e escuro
dos mortos.
Ah puch-
Divindade maia da morte, senhor do reino dos mortos.
(Fonte: O
livro “Deus, “Deuses” e Divindades, Alexandre Cumino, Madras Editora, 2004.)
Características
dos filhos de Omolu
No
positivo, os filhos de Omolu são extremamente prestativos e trabalhadores, são
amigos de
verdade. São perseverantes, pacientes, amorosos e fiéis a uma causa. Para os
filhos de Omolu, a justiça não é a dos homens, e sim a de Deus (Olorun).
Muito
intuitivos e de mente aguçada, têm uma capacidade mental atualizada ao seu
tempo.
Raramente
adoecem e quando isso acontece, recuperam-se rapidamente.
São
discretos e um tanto austeros. Guardam sua individualidade, mesmo no círculo de
suas amizades.
Não têm
grandes ambições. São despretensiosos. Tiram a roupa do corpo para agradar uma
pessoa e tratam o dinheiro pelo lado do prazer, da satisfação.
Muito limpos
e vaidosos, na maioria das vezes são espiritualmente muito bonitos. E mesmo que
não tenham muita beleza física, exercem atração sobre as pessoas porque o seu
lado espiritual, íntimo, é muito forte.
Gostam da
ordem e são ótimos mestres instrutores, levando suas empreitadas até o fim, sem
se importarem com o preço a ser pago. Querem que as coisas saiam da maneira que
planejaram.
Sinceros,
não levam desaforo para casa, respondem no ato quando se sentem
ofendidos.
Nos
relacionamentos amorosos, costumam sentir-se atraídos por pessoas de
temperamento extrovertido e exuberante. Admiram o brilho do parceiro ou
parceira, embora intimamente isso possa lhes causar um sentimento de quase
inferioridade e autopunição, já que sua natureza é reservada.
Têm a
tendência da mudança. Podem mudar de opinião de uma hora para outra. Parecem
“dançar Opanijé”, indo de um lado para outro outro, o tempo todo, sempre
procurando
por algo.
Trabalhadores
incansáveis, os filhos de Omolu fazem de tudo no seu templo religioso. Mas não
os magoem nem os tratem com indiferença, pois quando se sentem incompreendidos
são capazes de exageros e podem ter repentinas depressões.
Fisicamente,
costumam ser magros e de traços físicos bem definidos.
Apreciam: o
ensino, o misticismo, a magia e as coisas religiosas; roupas bem alinhadas e
discretas; a boa mesa; companhias inteligentes; a vida errante e o trabalho
descompromissado, como se a qualquer momento fossem partir.
No negativo,
os filhos de Omolu tornam-se pessoas pessimistas e teimosas, que adoram exibir
os seus sofrimentos e que procuram o caminho mais longo e difícil para atingir
algum fim.
Omolu é
relacionado a um arquétipo psicológico derivado de sua postura na dança: se
nela
Omolu
esconde suas chagas dos espectadores, por outro lado sua postura pesada e lenta
simboliza o sofrimento que o abate. No comportamento do dia-a-dia, tal
tendência pode revelar-se de forma negativa nos seus filhos, através de um caráter
tipicamente masoquista. Podem, então, sentir-se incompreendidos e se tornar
céticos, reprimidos, perversos, irritantes ou vingativos.
Quando
deprimidos e depressivos, agem como velhos: lentos, exigentes e rabugentos;
acham que nada pode dar certo, que nada está bom. Neste caso, é difícil
relacionar-se com eles.
Podem não
ter muita beleza física e apresentar doenças de pele, marcas no rosto, dores e
problemas nas pernas.
Mas o lado
positivo dos filhos de Omolu supera, em muito, o lado autodestrutivo que a
maioria deles possa ter (uns mais, outros menos).
Oferenda:
Velas roxas; crisântemos brancos; flores do campo roxas; vinho tinto seco;
água
mineral; um coco seco aberto só nos “olhinhos,” o suficiente para se colocar
dentro dele um pouco de mel; um punhado de sal grosso; um punhado de terra
vegetal coberta por fios de palha da costa; uma porção de pipoca coberta de
coco ralado e estourada em azeite doce (ou no dendê, se for uma oferenda para o
corte de magia negativa); frutas (de preferência, as de casca ou polpa escura);
ervas.
Onde
oferendar: No cemitério (na parte esquerda do cruzeiro); à beira-mar.
Quando
oferendar:
Para pedir a
cura de doenças. Especialmente nos casos de doenças auto-imunes,
infecto-contagiosas, ósseas, musculares e de pele;
Para proteção
e defesa contra magias negativas, atuações mentais negativas, ataques externos
etc.;
Para o
equilíbrio e a cura de enfermidades e desequilíbrios no campo sexual;
Para superar
vícios de difícil tratamento;
Para vencer
o desamor e o desânimo diante da vida, buscando a recuperação da autoestima e
da autoconfiança;
Para o
tratamento de processos de obsessão e perturbações ligadas a presenças
espirituais desequilibradas no campo magnético do enfermo.
Amaci: Água
de fonte com pétalas de crisântemos brancos, que devem ser maceradas e curtidas
por sete dias.
Cozinha
ritualística:
1-Arroz
branco coberto com pipoca e enfeitado com fatias de pão preto regadas
com dendê.
2-Pipoca feita
no dendê e enfeitada com tirinhas de coco.
3-Feijoada: Preparar
uma feijoada comum e depois temperar com dendê e cebola roxa. Enfeitar com
tirinhas de coco.
4-Feijão
preto com camarão: Cozinhar em ponto firme e apenas em água um punhado
de feijão preto. Escorrer a água e reservar. Em separado, refogar no dendê um
punhado de camarão fresco (ou camarão seco previamente dessalgado), cebola roxa
picadinha e temperos (cheiro verde, orégano etc.). Juntar o feijão cozido e
refogar ligeiramente. Servir num alguidar ou num prato de papelão forrado com
coco (ralado ou em tirinhas), ou então com folhas de taioba. Pode-se fazer
apenas o feijão com a cebola, passados no dendê (sem o camarão).
5-Carne
de porco: Um pedaço de carne de porco, um pouco de dendê e meio quilo
de cebola roxa. Aquecer o dendê e passar a carne de porco nesse azeite, só para
dourar. Juntar um pouco de água para cozinhar levemente a carne. Cortar a
cebola e passar no dendê quente, rapidamente, para não murchar. Colocar a carne
num alguidar ou num prato de papelão forrado com folhas de taioba e cobrir com
a cebola.
6- Aberém: Pequenas
porções de massa de acarajé (ou de milho), sem sal. Enrolar em em folha de
bananeira e cozinhar em banho-maria. Depois, regar com mel (ou dendê).
Alguns
Caboclos de Omolu: Caboclo Terra Roxa (Omolu e Nanã), Caboclo Rompe Terras
(de Ogum e Omolu), Caboclo Africano, Caboclo Folha Seca (regência de Oxóssi e
Omolu), Caboclo Cipó Preto (Oxóssi e Omolu), Caboclo Arranca Toco (arranca=
Ogum; toco= árvore que secou= Omolu); Caboclo Quebra toco (quebra= Ogum;
toco=Omolu), Caboclo Pedra Preta (Oxalá e Omolu).
Alguns Exus
de Omolu: Exu da Terra (Omolu e Obá); Exu Terra Preta; Exu Treme
Terra (Omolu e Obá); Exu Caboclo (=da terra); Exu do Toco; Exu Trinca
Ferro (de Ogum e Omolu: porque trincar o ferro é reduzi-lo a pedaços; vai
estilhaçar, vai soltar “pó de ferro”); Exu Pedra Preta (Oxalá e Omolu); Exu do
Pó; Exu Sete Poeiras (de Omolu e Iansã: porque a poeira é terra que vai pelos
ares, que se movimenta com o vento); Exu Toco Preto.
TRONO
|
Masculino
da Geração.
|
Linha/Sentido
|
Geração
|
Fator
|
Fator
Paralisador- tem a função de paralisar tudo o que atenta contra o Sentido da
Vida e da Geração, para garantir a estabilidade e o equilíbrio da Criação.
O Fator
Paralisador, na sua atuação, engloba: o Fator Puro Estabilizador (que dá
estabilidade à Criação); e o Fator Misto Geracionista (que gera as condições
para a multiplicação de tudo, inclusive a dos Fatores dos demais Orixás).
|
Essência
|
Telúrica
(da terra).
|
Elemento
|
Primeiro
Elemento: terra.
Segundo
Elemento: água.
|
Polariza
com
|
Yemanjá
|
Cor
|
Roxo.
Também o
branco, o preto e o vermelho juntos.
E ainda o
branco e o preto juntos.
|
Fio de
Contas
|
Contas de
porcelana roxas; ou brancas, pretas e vermelhas; ou brancas e pretas; ou
contas feitas de rodelas bem pequenas de casca de coco (escuras).
|
Ferramentas
|
O azê
(vestimenta de palha); o cajado (xaxará); a lança de ferro (okó); os búzios.
|
Ervas
|
1-Fonte:
Adriano Camargo:
a) Quentes
ou agressivas: Alho desidratado; casca de alho; casca de cebola; carapiá;
cipó cabeludo; chorão; dandá; erva de bicho; garra do diabo; mamona roxa;
olho de cabra; orégano; peregum roxo; picão; pinhão roxo; valeriana.
b) Mornas
ou equilibradoras: Alcachofra (folhas); angélica (raiz); capim rosário;
chapéu de couro; cravo da Índia; sete sangrias; trapoeraba (ou coração roxo);
manjericão (comum); manjericão roxo; noz de cola (obi seco); verbena; folhas
de beterraba; catinga de mulata; ipê roxo; lantana; folha de fogo.
2-Outras:
Acônito; agoniada; alamanda; alfazema de caboclo; assa-peixe; babosa (ou pau
d’alho); beldroega vermelha; bomina; café do mato; cambará; canela de velho;
camena coirana; capixingui; carobinha do mato; casadinha; cebola do mato;
cordão de frade (ou de São Francisco); cotiveira; douradinha; erva de
passarinho (ou erva de andorinha); erva moura; figueira (folhas); folhas de
fumo; folhas de lentilha; folhas de milho; folhas de tremoço; gervão roxo;
guararema; guanxuma; hortelã brava; jenipapo; manjerona; mastruz (ou
mastruço); mololô; musgo; palha da costa; quitoco; rabujo; sabugueiro; senza;
tamarindo (folhas e casca); vassoura preta; velame do campo.
|
Símbolos
|
O cruzeiro
do cemitério; a foice (alfanje); a terra; as pipocas; a palha da costa.
|
Ponto
de força na Natureza
|
O
cemitério (calunga pequena);
O ponto à
esquerda do cruzeiro do cemitério;
O mar
(calunga grande).
|
Flores
|
Crisântemos;
galhos secos de figueira e de pitangueira; tinhorão; inhame preto; cipó São
João; cravo-de-defunto; todas as flores brancas; todas as flores roxas.
|
Essências
|
Cravo,
manjericão, café, alfazema.
|
Pedras
|
Pedras: As
pedras roxas e algumas pedras pretas, tais como ônix e ametista da Bahia (ou
cacochinita). Seus principais minerais são: ferro, manganês, potássio e
zinco, como componentes internos e agentes corantes destes Cristais. (Fonte:
Angélica Lisanty.)
Pedra mais
usada: Ônix preto. Dia Indicado para a consagração: 2ª feira. Hora
indicada: meia noite.
|
Metal e
Minérios
|
Metal:
Chumbo.
Minério:
Molibdenita (Molibdênio). Dia indicado para a consagração: 6ª feira.
Hora indicada: 18 horas. (Fonte: “Código de Umbanda”, Rubens Saraceni,
Madras Editora.)
|
Chakra
|
Básico ou
Raiz
|
Saúde
|
Coluna
vertebral, os rins, o aparelho reprodutor e os membros inferiores. As
musculaturas que podem ser envolvidas por um bloqueio nessa região são:
glúteos, diafragma pélvico, músculos internos da barriga e da região lombar
(abdominais, lombares, lombo sacrais e glúteos médios). Pessoas com estes
bloqueios podem apresentar hemorróidas, dores lombares, tensão nas pernas e
pés, problemas nos aparelhos urogenitais e dificuldades sexuais.
Ligado às
glândulas supra-renais, este chakra é o responsável pela absorção da
Kundalini (energia da terra) e pelo estímulo direto da energia no corpo e na
circulação do sangue. Está muito ligado às sensações físicas. Relacionado
diretamente com os membros inferiores e com os instintos físicos. Atua na
irrigação dos órgãos sexuais. Por meio dele é que entram as energias que nos
conectam com a terra e com o mundo exterior. Ligação com a terra, com o
bem-estar físico, com o instinto de sobrevivência, com a vitalidade e com a
sexualidade.
Está
diretamente ligado à vontade, pois nos dá motivação e energia para agir,
fazer, realizar, ganhar nosso sustento, enfrentar obstáculos etc.
Na época
atual, encontra-se passivo, na maioria dos indivíduos, pois só entra em
atividade pela vontade dirigida e controlada pelo iniciado. Por que isso?
Porque o chakra Básico responde ao aspecto vontade. Da mesma forma que o
princípio “vida” está situado no coração, o princípio da vontade está situado
no chakra básico, na base da coluna.
Seu
principal aspecto é a inocência, qualidade pela qual experimentamos a alegria
pura, infantil, sem as limitações do preconceito e dos condicionamentos, e
que nos dá dignidade, equilíbrio e um enorme senso de direção e propósito na
vida. É apenas simplicidade, pureza e alegria.
Portais de
cura (cf. Adriano Camargo): Potes com terra escura, velas roxas e brancas,
peregum roxo (quatro, sete, ou oito folhas), raízes escuras (dandá,
valeriana).
|
Dia da
Semana
|
Na
Umbanda: terça-feira, dia regido por
Plutão.
No Candomblé:
segunda-feira.
|
Planeta
|
Plutão
|
Saudação
|
Salve
Nosso Pai Omolu! Resposta: “Atotô, Omolu!”; ou então: “Omolu-Yê Tatá!”
|
Bebida
|
Vinho
branco licoroso, vinho tinto seco, vinho moscatel, aguardente, água mineral,
suco de laranja lima, suco de limão, água de arroz (lavar o arroz, deixar de
molho em água e utilizar esta água), sumo de ervas (usar as ervas do Orixá),
dendê, mel.
|
Animais
|
Cachorro,
porco, cabrito, galos carijós, frangos rajados, galinha d'angola, tatu e
cágado, patos pretos e brancos.
|
Comidas
|
Pipoca;
milho, nabo; verduras refogadas no dendê (taioba, bertalha, espinafre etc.),
chamadas genericamente de efó; abacaxi, ameixa preta, amora, banana da terra,
cereja preta, coco seco, figo, feijão preto, fruta do conde, fruta pão,
gengibre, goiaba branca, jamelão, jabuticaba, laranja lima, limão, mandioca,
maracujá, uva preta, tamarindo, frutas ácidas em geral, melão.
|
Números
|
Na
Umbanda: 12 e 13.
No
Candomblé: 14
|
Data
Comemorativa
|
02 de
novembro, Dia de Finados.
|
Sincretismo
|
Na
Umbanda: São
Bento.
No
Candomblé costuma-se sincretizar Omolu com São Lázaro e com São Roque.
|
Incompatibilidades
|
No Culto
de Nação e no Candomblé as proibições (euós ou quizilas) guardadas em relação
ao Orixá Omolu são: o carneiro (a grande quizila); os sapos; os peixes de
pele; o caranguejo; a jaca; as folhas trepadeiras; a claridade. Seus filhos
não devem fazer uso da cachaça.
|
Qualidades
|
No
Candomblé, Omolu é associado ao número 14. Em consequência, considera-se que
são 14 as suas Qualidades.
As
encontradas com mais frequência são estas:
1-Akavan-
Tem ligação com Oyá. Veste estampado.
2-Azonsu/Ajunsu-
Tem fundamentos com Oxumaré, Oxun e Oxalá. Carrega lança e veste branco.
3-Azoani-
É jovem. Veste vermelho, palha vermelha Tem caminhos com Iroko, Oxumaré,
Yemanjá e Oyá.
4-Arawe/Jagun-
Tem fundamento com Oyá e Oxalá.
5-Ajoji /
Jagun- Tem fundamentos com Ogun e Oxagian.
6-Avimaje-Tem
fundamento com Nanã, Ossain e Odé.
7-Ajoji
/Segí/Jagun- Tem ligação com Yemanjá, Oxumaré e Nanã.
8-Afomam
ou Afenan- Veste a estopa e carrega duas bolsas de onde tira as doenças.
Veste-se de amarelo e preto. Todas as plantas trepadeiras lhe pertencem. Tem
caminhos com Oxumaré e com Ogun, de quem é companheiro. Dança com o corpo
curvado, cavando a terra, como Intoto, para depositar os corpos que lhe
pertencem.
9-Agbagba
Jagun- Tem fundamento com Oyá.
10-Itubé
Jagun/Jagun ou Ajagun - Tem caminhos com Oxalá. É jovem e guerreiro. Leva na
mão uma lança chamada okó. É vingativo e ambicioso, luta para alcançar
posição alta sem ver de que maneira. Tem caminhos com Ogunjá, Oxaguian, Ayrá,
Exu e Oxalufan. É cultuado no dia 17 de dezembro. Veste branco e preto e suas
contas são rajadas. Em seu cântaro (moringa de uma asa só) se colocam jóias e
dinheiro. Não come feijão preto. Sua comida inclui miúdos de boi no azeite
doce (e não em dendê, como a dos outros). Ele é o único que come igbin
(caracol ou caramujo, que é tradicionalmente oferecido para Oxalá, sendo
popularmente chamado de “boi de Oxalá”).
11-Ìpòpò:
Tem forte fundamento com Nanã. Usa biokô.
12-Tetu /
Etetu Jagun: É jovem e guerreiro. Recebe oferenda com Ogum e Oyá. Veste
branco, usa biokô.
13-Agòrò:
Veste branco, usa biokô com franjas de palha
14-Itetù
Jagun: Ligado a Yemanjá e Oxalá.
Aparecem
ainda vários nomes, títulos e qualidades parecidas: Ajágùsí, Topodún,
Janbèlé, Parú, Polibojí, Akarejebé, Aruajé, Ahoye, Olutapá, Sapatá Ainon,
Wari Warún etc.
Algumas
Casas fazem ainda referência às seguintes Qualidades de Omolu:
1-Saponan-
É o mais antigo. Deus da varíola e das doenças de pele. Tem caminhos com
Oxóssi. Seu nome não deve ser pronunciado. Na África, quando se fala seu
nome, coloca-se mel na boca. Recebe oferendas com Exu e tem fundamento nas
encruzilhadas. Suas contas são brancas e pretas.
3-Possun-
No Jêje é louvado como Azanssun, ligado ao tempo, às estações do ano e ao
culto da terra. É o verdadeiro dono do cruzeiro. Seu assentamento é feito no
barro vermelho. Veste-se de vermelho, preto e branco. Na perna esquerda leva
uma pulseira de aço.
No Keto e
na Angola é reverenciado como Tempo. Recebe oferendas diretamente na terra.
Sua dança mostra claramente sua ligação com Exu e com a terra: dança com
garras nas mãos, como se estivesse cavando a terra ou retalhando alguma
coisa. Animais para oferenda: cágado e tatu. Tem caminhos com Intoto, Iroko e
Oyá.
4-Intoto-
Suas contas são em vermelho e preto. É um Orixá cultuado apenas em seu
assentamento (não “vira” na cabeça de ninguém). Representa o fundo da terra.
Recebe oferendas com Ewá, Oyá e Iku. Seus assentos são cultuados ao lado de
Nanã e Yemanjá. Não aceita a faca, assim como Nanã. Suas oferendas sempre
levam dendê e são feitas no campo que tenha barro. Animais para oferenda:
porco preto, frangos, pombos de cor e galinha d'angola.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário